Obsessiva n°5


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Caio Fernando Abreu »»
 
Poesias nunca publicadas de... (2012) - Década de 80 »»
 
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Obsessiva n°5
Obsessionnelle n°5


Faz tanto tempo, já
e não, eu não esqueço.
Tomadas providências melancólicas
tipo beber muito
ir ao cinema sem parar
televisão bares festinhas
drogas variadas
cartas & telefonemas
ou não. E nada.

Somados aos dos pés, os dedos
das mãos não seriam suficientes
para contar os meses todos.
Tantos, deus, e tantas
mas tantas, tantas fiz
(como diria Ana Cristina, a bela)
e eu – mas o que seria esse
eu
depois de tudo?
e isso é outro papo – enfim:

eu não esqueço

aquele esboço de felicidade,
inesperados tropeços no real. E teu cheiro
de repente, outra vez, no meio de maio,
visuais rápidos na esquina, no escuro
teu rosto transformado em outros.
Arsênico, cumulativa: a memória
dum quase possível me envenenando
insidiosa e lenta
como num romance inglês.

Até hoje – até quando?
Il y a si longtemps, déjà
et non, je n'oublie pas.
Prises de précautions mélancoliques,
comme boire beaucoup
aller au cinéma sans s'arrêter
télévision bars festivités
médicaments divers
lettres & appels téléphoniques
ou non. Et rien.

Ajoutés à ceux des pieds, les doigts
des deux mains ne seraient pas suffisants
pour compter tous les mois.
Tellement, mon Dieu, tellement
j'en ai fait tellement
(comme dirait Ana Cristina, la belle)
et moi – et qui serait-il
ce moi
après tout ?
mais c'est un autre sujet - enfin :

je n'oublie pas

cette esquisse de bonheur,
trébuchements inattendus dans le réel. Et ton odeur
soudainement, à nouveau, à la mi-mai,
visions rapides au coin de la rue, dans l'obscurité
ton visage transformé en d'autres.
Arsenic, supplétive : la mémoire
d'une presque possibilité m’empoisonne
insidieuse et lente
comme dans un roman anglais.

Jusqu'à aujourd'hui - jusqu'à quand ?
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Egon Schiele
Nu masculin assis (1910)
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