Inatingível


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Vinícius de Moraes »»
 
O caminho para a distância (1933) »»
 
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Inatingível
Inaccessible


O que sou eu, gritei um dia para o infinito
E o meu grito subiu, subiu sempre
Até se diluir na distância.
Um pássaro no alto planou voo
E mergulhou no espaço.
Eu segui porque tinha que seguir
Com as mãos na boca, em concha
Gritando para o infinito a minha dúvida.

Mas a noite espiava a minha dúvida
E eu me deitei à beira do caminho
Vendo o vulto dos outros que passavam
Na esperança da aurora.
Eu continuo à beira do caminho
Vendo a luz do infinito
Que responde ao peregrino a imensa dúvida.

Eu estou moribundo à beira do caminho.
O dia já passou milhões de vezes
E se aproxima a noite do desfecho.
Morrerei gritando a minha ânsia
Clamando a crueldade do infinito
E os pássaros cantarão quando o dia chegar
E eu já hei de estar morto à beira do caminho.

Ce que je suis, je l'ai crié un jour vers l'infini
Et mon cri a monté, monté toujours
Jusqu'à se diluer dans la distance.
Un oiseau là-haut planait en vol
Et plongeait dans l'espace.
Je l'ai suivi car je devais le suivre,
Mes mains devant ma bouche, en porte-voix
Criant mon doute vers l'infini.

Mais la nuit épiait mon doute
Et je me suis couché au bord du chemin
Voyant la silhouette de ceux qui passaient
Dans l'espoir de l'aube.
Je suis resté au bord du chemin
Voyant la lumière de l'infini
Renvoyer au pèlerin l'immensité de son doute.

Je suis en train de mourir au bord du chemin.
Le jour est déjà passé des millions de fois
Et la nuit approche du dénouement.
Je mourrai en criant mon angoisse
En clamant la cruauté de l'infini
Et les oiseaux chanteront quand le jour viendra
Et je serais mort désormais, au bord du chemin.

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Peinture de Marie-Hélène Carcanague (2019)
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