Rascunho


Nom :
 
Recueil :
Source :
Publication :
 
Autre traduction :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poèmes inédits »»
nunorochamorais.blogspot.com (octobre 2020) »»
Poemas dos dias (2022) »»
 
Italien »»
«« précédent / Sommaire / suivant »»
________________


Rascunho
Croquis


A solidão é intolerável quando
Já não restam olhos que permitam choro algum,
Quando as lágrimas são apenas sombras,
Sendo por isso tão mais salgadas...
A solidão não mata, mas morre-se dela.
Assim, prosaicamente,
Tão prosaicamente como pousar a cabeça na almofada
E sentir-se um vulto de vácuo em volta,
Pensar-se “Estou só”.
 
A solidão não é o tempo,
Mas os intervalos do tempo.
Na ampulheta da mão vazia, absoluta,
Totalmente vazia, as estrelas são pó.
Na mão absolutamente vazia,
Nenhuma outra mão desagua,
Não se fundem linhas,
Não se fundem caminhos que se mutam em anéis
A que outros dão o nome de sentimento.
A solidão é uma mão vazia
Como uma janela fechada.
 
A solidão não é Deus.
A solidão nem sequer é o homem,
Mas um estádio final,
Um passo que a distância já não concede
E imobiliza.
Não, a solidão não é o homem.
 
A solidão é intolerável
E porque intolerável
Ao fundo dela há sempre o cintilar dum fim,
Um brilho afirmando que solidão não é morte.
 
E cada homem subscreve isto
Com o nascer cada dia.

La solitude est intolérable lorsqu'il
Ne reste plus d'yeux pour pleurer quelqu'un,
Lorsque les larmes ne sont plus que des ombres,
et en deviennent d'autant plus salées...
La solitude ne tue pas, mais on en meure.
Comme ça, prosaïquement,
Aussi prosaïquement que poser sa tête sur l'oreiller
Et l'on sent tout l'espace vide à l'entour,
Et l'on pense "Je suis seul".

La solitude n'est pas le temps,
Mais les intervalles du temps.
Vide, absolue, dans le sablier de la main
Totalement vide, les étoiles sont poussière.
Dans la main absolument vide,
Aucune autre main ne s'écoule,
Ne se fondent pas les lignes,
Ne se fondent pas les chemins qui se changent en anneaux
À qui les autres donnent le nom de sentiment.
La solitude est une main vide
Comme une fenêtre fermée.

La solitude n'est pas Dieu.
La solitude n'est même pas l'homme,
Mais un stade final,
Un pas que la distance déjà ne concède plus
Et immobilise.
Non, la solitude n'est pas l'homme.

La solitude est intolérable
Et parce que intolérable
Au fond d'elle-même il y a toujours l'éclat d'une fin,
Une lueur affirmant que la solitude n'est pas la mort.

Et chaque homme souscrit à cela
Avec le soleil qui se lève chaque jour.

________________

Egon Schiele
autoportrait avec gilet (1911)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (432) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (250) Reinaldo Ferreira (10) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)