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Escrevo-te a sentir tudo isto...
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Je t'écris en éprouvant cela...
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escrevo-te a sentir tudo isto...
e num instante de maior lucidez poderia ser o rio
as cabras escondendo o delicado tilintar dos guizos
nos sais de prata da fotografia
poderia erguer-me como o castanheiro dos contos
sussurrados
junto ao fogo
e deambular trémulo com as aves
ou acompanhar a sulfúrica borboleta revelando-se na
saliva dos lábios
poderia imitar aquele pastor
ou confundir-me com o sonho de cidade que
a pouco e pouco
morde a sua imobilidade
habito neste país de água por engano
são-me necessárias imagens radiografias de ossos
rostos desfocados
mãos sobre corpos impressos no papel e nos espelhos
repara
nada mais possuo
a não ser este recado que hoje segue manchando de
finos bagos de romã
repara
como o coração de papel amareleceu no esquecimento
de te amar
e num instante de maior lucidez poderia ser o rio
as cabras escondendo o delicado tilintar dos guizos
nos sais de prata da fotografia
poderia erguer-me como o castanheiro dos contos
sussurrados
junto ao fogo
e deambular trémulo com as aves
ou acompanhar a sulfúrica borboleta revelando-se na
saliva dos lábios
poderia imitar aquele pastor
ou confundir-me com o sonho de cidade que
a pouco e pouco
morde a sua imobilidade
habito neste país de água por engano
são-me necessárias imagens radiografias de ossos
rostos desfocados
mãos sobre corpos impressos no papel e nos espelhos
repara
nada mais possuo
a não ser este recado que hoje segue manchando de
finos bagos de romã
repara
como o coração de papel amareleceu no esquecimento
de te amar
je t'écris en éprouvant cela
et dans un moment de grande lucidité pouvoir être le fleuve
les chèvres cachant le délicat tintement des grelots dans
les sels d'argent de la photographie
je pourrais me lever comme le marronnier dans les contes
chuchotés
au coin du feu
et errer en tremblant avec les oiseaux
ou accompagner le papillon sulfurique se révélant dans
la salive des lèvres
je pourrais imiter ce pasteur
ou me confondre avec le rêve d'une ville qui
peu à peu
mords sa propre immobilité
j'habite ce pays d'eau par erreur
me sont nécessaires des images radiographiques d'os
de visages floutés
de mains sur des corps imprimés sur papier et miroirs
remarque
je n'ai rien d'autre
excepté ce message qui aujourd'hui continue de salir de
menus baies de grenade
remarque
comme le cœur de papier a fini par jaunir lorsque vint
l'oubli de t'aimer
et dans un moment de grande lucidité pouvoir être le fleuve
les chèvres cachant le délicat tintement des grelots dans
les sels d'argent de la photographie
je pourrais me lever comme le marronnier dans les contes
chuchotés
au coin du feu
et errer en tremblant avec les oiseaux
ou accompagner le papillon sulfurique se révélant dans
la salive des lèvres
je pourrais imiter ce pasteur
ou me confondre avec le rêve d'une ville qui
peu à peu
mords sa propre immobilité
j'habite ce pays d'eau par erreur
me sont nécessaires des images radiographiques d'os
de visages floutés
de mains sur des corps imprimés sur papier et miroirs
remarque
je n'ai rien d'autre
excepté ce message qui aujourd'hui continue de salir de
menus baies de grenade
remarque
comme le cœur de papier a fini par jaunir lorsque vint
l'oubli de t'aimer
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Gerhard Richter Marins (1966) |
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