Arte poética


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José Saramago »»
 
Os Poemas Possíveis (1966) »»
 
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Arte poética
Art poétique


Vem de quê o poema? De quanto serve
A traçar a esquadria da semente:
Flor ou erva, floresta e fruto.
Mas avançar um pé não é fazer jornada,
Nem pintura será a cor que não se inscreve
Em acerto rigoroso e harmonia.
Amor, se o há, com pouco se conforma
Se, por lazeres de alma acompanhada,
Do corpo lhe bastar a presciência.

Não se esquece o poema, não se adia,
Se o corpo da palavra for moldado
Em ritmo, segurança e consciência.
Il vient d'où le poème ? À quoi sert
De mettre à l'équerre la semence :
Herbe ou fleur, efflorescence et fruit.
Mais l'avance d'un pied ne fait pas le voyage,
Ni ne fera la peinture, l'exacte, rigoureuse et
Harmonieuse inscription de la couleur.
L'amour, s'il existe, se contente de peu
Si, pour accompagner les loisirs de l'âme,
Lui suffit la prescience du corps.

Le poème ne s'oublie pas, ni ne se déforme,
si le corps de la parole est façonné
d'un rythme sûr, en pleine conscience.
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Alberto Gonzalez Vivo
Carrés déconstruits colorés (2013)
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