Deitei a cabeça em cima da fotografia...


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O medo (1998) (Oeuvres poétiques 1974-1997) »»
 
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Deitei a cabeça em cima da fotografia...
J'ai posé ma tête en-haut de la photographie...


deitei a cabeça em cima da fotografia
e com a respiração despertei teu corpo
do sítio penumbroso onde viveras
o tempo não se gastou
passei estes anos a colocar as coisas
nos seus devidos lugares
ainda ouço
a voz outonal das palmeiras e o murmúrio
do vento cercando a casa protegida pelo bolor
era uma pequena ilha dizias
onde os ruídos duma vida anterior a esta
dormitavam ainda
 
agora está tudo arrumado
agito-me em volta das coisas
mas nada posso corrigir
o que está feito está feito
 
levanto-me daqui e corro para o telefone
tento saber se estás onde penso existir
uma cidade... ninguém responde
 
onde estarás?
deste ou do outro lado do telefone?
um puto irrompe da insónia
deitando-me a língua de fora
 
de qualquer maneira não consegui a ligação 

J'ai posé ma tête en-haut de la photographie
et d'un souffle j'ai réveillé ton corps
du lieu de pénombre où tu vivais
le temps n'a pas été perdu
j'ai passé ces années à placer les choses
dans les lieux qui leur reviennent
j'entends encore
la voix automnale des palmiers et le murmure
du vent entourant la maison que le moisi protège
c'est une petite île disais-tu
où les bruits d'une vie antérieure
dormaient encore

maintenant tout est en ordre
je m'agite autour des choses
mais ne peux rien corriger
ce qui est fait est fait

D'ici je me lève et cours vers le téléphone
j'essaie de savoir si tu es où je pense qu'il existe
une ville... personne ne répond

où seras-tu ?
ici ou de l'autre côté du téléphone ?
un gosse surgit de l'insomnie
me tirant la langue

quoi qu'il en soit je n'ai pas eu la communication

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David Lynch
Téléphone (2012)
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