Os nomes


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Manuel Bandeira »»
 
Opus 10 (1952) »»
 
Italien »»
«« précédent /  Sommaire / suivant »»
________________


Os nomes
Les noms


Duas vezes se morre:
Primeiro na carne, depois no nome.
A carne desaparece, o nome persiste mas
Esvaziando-se de seu casto conteúdo
- Tantos gestos, palavras, silêncios -
Até que um dia sentimos,
Com uma pancada de espanto (ou de remorso?),
Que o nome querido já nos soa como os outros.

Santinha nunca foi para mim o diminutivo de Santa.
Nem Santa nunca foi para mim a mulher sem pecado.
Santinha eram dois olhos míopes, quatro incisivos claros
à flor da boca.
Era a intuição rápida, o medo de tudo, um certo modo
de dizer "Meu Deus, valei-me".

Adelaide não foi para mim Adelaide somente,
Mas Cabeleira de Berenice, Inominata, Cassiopéia.
Adelaide hoje apenas substantivo próprio feminino.

Os epitáfios também se apagam, bem sei.
Mais lentamente, porém, do que as reminiscências
Na carne, menos inviolável do que a pedra dos túmulos.

On meurt deux fois :
D'abord dans sa chair, ensuite par le nom.
La chair disparaît, le nom persiste mais
En se vidant de son chaste contenu
- Tant de gestes, de paroles, de silences -
Jusqu'au jour où nous sentons
Sous le coup de l'étonnement (ou du remords ?),
Que ce nom si cher sonne dès lors comme les autres.

Santinia n'a jamais été pour moi le diminutif de Santa.
Ni pour moi jamais Santa ne fut la femme sans péché.
Santinia c'était deux yeux myopes, quatre incisives
éclatantes à fleur de bouche.
C'était une intuition vive, la peur de tout, une certaine façon
de dire "Mon Dieu, protégez-moi ".

Adélaïde ce n'était pas seulement pour moi Adélaïde,
Mais les Cheveux de Bérénice, Innominata, Cassiopée.
Adélaïde aujourd'hui ce n'est qu'un nom propre féminin.

Les épitaphes s'estompent également, je le sais bien.
Plus lentement, cependant, que les réminiscences
Dans une chair, moins inviolable que la pierre des tombeaux.

________________

Bernardo Strozzi
Bérénice (1640)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (250) Reinaldo Ferreira (11) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)