Quando perderes o gosto humilde da tristeza...


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Manuel Bandeira »»
 
O ritmo dissoluto (1924) »»
 
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Quando perderes o gosto humilde da tristeza...
Quand tu perdras l’humble goût de la tristesse...


Quando perderes o gosto humilde da tristeza,

Quando, nas horas melancólicas do dia,
Não ouvires mais os lábios da sombra
Murmurarem ao teu ouvido
As palavras de voluptuosa beleza
Ou de casta sabedoria;

Quando a tua tristeza não for mais que amargura,

Quando perderes todo estímulo e toda crença.
- A fé no bem e na virtude,
A confiança nos teus amigos e na tua amante,
Quando o próprio dia se te mudar em noite escura
Da desconsolação e malquerença;

Quando, na agonia de tudo o que passa

Ante os olhos imóveis do infinito,
Na dor de ver murcharem as rosas,
E como as rosas tudo o que é belo e frágil,
Não sentires em teu ânimo aflito
Crescer a ânsia de vida como uma divina graça;

Quando tiveres inveja, quando o ciúme

Crestar os últimos lírios de tua alma desvirginada;
Quando em teus olhos áridos
Estancarem-se as fontes das suaves lágrimas
Em que se amorteceu o pecaminoso lume
De tua inquieta mocidade:

Então, sorri pela última vez, tristemente,

A tudo que outrora
Amaste. Sorri tristemente...
Sorri mansamente... em um sorriso pálido... pálido
Como o beijo religioso que puseste
Na fronte morta de tua mãe... sobre a sua fronte morta...

Quand tu perdras l’humble goût de la tristesse,

Quand, aux heures mélancoliques du jour,
Tu n’écouteras plus les lèvres de l’ombre
Murmurer à ton oreille
Les paroles de la belle volupté
Et des chastes connaissances ;

Quand dans ta tristesse il n’y aura plus que l’amertume,

Quand tu auras perdu toute motion et toute croyance
– La foi dans le bien et la vertu,
Fait confiance à tes amis et à ton amour,
Si le jour lui-même veut t’emporter dans la nuit
Noire des malveillances et de l’affliction.

Quand, tout ce qui passe étant à l’agonie

Devant les yeux immobiles de l’infini,
Dans la douleur de voir disparaître les roses,
Et comme les roses, tout ce qui est beau et fragile,
Quand tu ne sentiras plus en ton âme affligée
Croître le désir de la vie comme une grâce divine ;

Quand tu auras de l’envie, que tu seras jaloux

Recueille les derniers lys de ton âme déflorée ;
Quand dans tes yeux secs viendra
S’épancher la source suave des larmes
Dans laquelle s’éteint la lumière des péchés
De ta jeunesse intranquille :

Alors, souris une dernière fois, tristement,

À tout ce que, autrefois
Tu aimas. Souris tristement…
Souris paisiblement… d’un pâle sourire… pâle
Comme le baiser religieux que tu poserais
Sur le front mort de ta mère… sur ton front mort…

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Vassily Kandinsky
Faucille (1926)
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