canção do povo


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Narlan Matos »»
 
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canção do povo
chanson du peuple


quero entoar um canto ao povo
como quem oferece uma prece
às almas perdidas do purgatório
como quem à noite e anônimo
rouba um amigo do manicômio

quero entoar um canto ao povo
para ser cantado nas ágoras
com a harpa e a cítara e a lira
para ser estrela nos infernos
e fresco como um oásis
para as caravanas do deserto

quero entoar um canto ao povo
para cicatrizar a ferida e a dor
fazer nascer um arco-íris sobre
a loucura o desespero a solidão
e decretar por lei, por evangelho
que a única estrada agora possível
– a única – é a estrada do amor

quero entoar um canto ao povo
que parta como uma epopeia
que escave o pretérito mais-que-perfeito
e encontre a Grécia Antiga
morta por debaixo da hera esquecida
no altar dos deuses do Olimpo
a tocha perdida para juntos eu e tu
repartirmos de novo de mão em mão
  o fogo sagrado da vida.
Je veux entonner un chant pour le peuple
pareil à celui qui offre une prière
pour les âmes perdues du purgatoire
pareil à l'anonyme qui la nuit
vole un ami de la maison des fous

Je veux entonner un chant pour le peuple
que l'on pourra chanter sur l'agora
avec harpe et cithare, avec la lyre
et qui sera une étoile dans les enfers
rafraîchissant comme une oasis
pour les caravanes, dans le désert

Je veux entonner un chant pour le peuple
guérissant la blessure et la douleur
pour que naisse un arc-en-ciel au-dessus
de la folie, désespoir solitaire,
décréter par la loi, et l'évangile,
la seule route alors qui soit possible
car – unique – est la route de l'amour

Je veux entonner un chant pour le peuple
qui aille comme va une épopée
creusant le prétérit plus-que-parfait
retrouver maintenant la Grèce antique
morte oubliée sous le lierre et reprendre
sur l'autel sacré des dieux de l'Olympe.
le flambeau perdu pour que toi et moi
partagions de nouveau de main en main
  le feu sacré de la vie.
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Tarsila do Amaral
Morro da Favela (1924)
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