Ponte móvel sobre o rio Leça


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
João Luís Barreto Guimarães »»
 
Revista Poesia Sempre n°26 (2007) »»
 
Italien »»
«« précédent /  Sommaire / suivant »»
________________


Ponte móvel sobre o rio Leça
Pont mobile sur le fleuve Leça


Imóvel na ponte aberta sobre este porto de mar
queria não ter que esperar que o petroleiro passasse
a vomitar outro preto nos depósitos da Cepsa.
Olho as margens da tarde em informe ebulição
o navio japonês veio dar à luz Toyota’s
alinhados sobre o cais qual parada militar
(os turistas do cruzeiros aguardam pelo autocarro
que lembrará em sueco memórias do Porto antigo).
Do cargueiro africano rolam troncos gigantescos
houve um que caiu à água e ninguém o foi salvar
(decerto não irá longe nestas águas estagnadas
nem poderá ir mais ao fundo).
Corre um vento de norte. Novembro
está dentro do Outono. Alguém reuniu o manto
de folhas cerca da ponte mas pelo final do dia
já é Outono outra vez. Mas
distraí-me do cais. Espera. Lá está a marinha.
A fragata da Defesa devolveu homens à terra
meio-dia de licença na casa da luz vermelha
(este Natal as meninas vão-lhes dar a provar sonhos
e o porteiro: rabanadas). E se
faltam desrazões para me obrigar a parar
aqui me têm parado
(só reparando se vê)
qualquer amurada é perfeita para resumir um país
qualquer ponte é ideal para se matar
os tempos.
Immobile près du pont Leça ouvert sur ce port maritime,
je ne veux pas devoir attendre que finisse de passer le pétrolier
en vomissant tout son noir sur les dépôts de Cepsa.
Je regarde les rives informes du soir qui bouillonnent,
le navire japonais fait renaître les lumière de Toyota
s'alignant sur le quai où paradent les militaires
(les touristes des croisières qui attendent l'autobus garderont
en langue suédoise des souvenirs mémorables de Porto Antigo).
Du cargo africain roulent des troncs gigantesques,
l'un d'entre eux est tombé à l’eau sans personne pour le sauver
(il n’ira certainement pas plus loin dans ces eaux stagnantes
ni plus au fond).
Souffle un vent du nord. Novembre
est entré dans l'automne. Quelqu'un a amassé un manteau
de feuilles autour du pont mais à la fin du jour,
c'est l'automne une fois encore. Mais
j'ai été distrait du quai. J'attends. Il y a la marine.
La frégate de la Défense a renvoyé les hommes à terre
avec demi-journée de permission pour les lanternes rouges
(à la Noël, les filles leur donneront un avant-goût des rêves
et le portier : du pain perdu).
Et bien qu'il n'y ait aucune raison qui m'oblige à m'arrêter
ici je m'y arrête
(je ferai simplement remarquer)
que tout bastingage est parfait pour résumer un pays,
que tout pont est idéal pour tuer
le temps.
________________

Jacob Henricus Maris
Pont à bascule (1883)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (106) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (435) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (252) Reinaldo Ferreira (23) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)