capricho árabe


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Narlan Matos »»
 
Um alaúde, a península e teus olhos negros (2017) »»
 
Italien »»
«« précédent /  Sommaire / suivant »»
________________


capricho árabe
caprice arabe


minhas mãos envelhecem em segredo
como o puro aço num punhal incandescente
são serafins distantes contemplando reinos desconhecidos
e a misteriosa rosa que floresceu sobre a escarpa
 inacessível

minhas mãos navegam velhas galeras
em oceanos de mitos e símbolos mortos
desbravando o invisível como o sol a sombra
como a brisa encontra e adentra o arquipélago distante

minhas mãos colhem frutos e flores
nos jardins celestiais e nas formosas estâncias
onde a ventura é uma vinha arrodeada de ramas

minhas mãos repousadas sobre a noite
como um viajeiro cansado recostado num alambrado numa
estrada deserta
solitárias no pátio da casa paterna guardadas por
melancólicos lírios brancos
e pela lua mítica recobrindo o jardim com seu lençol de
relicários

minhas mãos conhecem deusas e obeliscos antigos
e apartam as estações para que não se percam de si
e desenterram aldeias e civilizações perdidas há muito
para que eu seja outro e muito além de mim mesmo.
mes mains vieillissent en secret
comme un pur acier d'une dague incandescente
sont lointaines séraphines contemplant des royaumes inconnus
et la rose mystérieuse qui a fleuri sur l'escarpement
 inaccessible

mes mains naviguent vieilles galères
sur des océans de mythes et de symboles morts
subjuguant l'invisible comme le soleil l'ombre
comme la brise qui trouve et pénètre l'archipel lointain

mes mains cueillent des fruits et des fleurs
dans des jardins célestes et de belles demeures
où la fortune est une vigne débordant de feuillage

mes mains reposent sur la nuit
comme un voyageur fatigué accoudé à la barrière d'une
route déserte
solitaires dans la cour de la maison paternelle, protégées par
des lys blancs mélancoliques.
et par la lune mythique recouvrant le jardin de son linceul de
reliquaires

mes mains connaissent divinités et obélisques antiques.
et séparent les saisons pour ne pas se perdre en elles
et déterrent villages et civilisations perdus depuis longtemps
pour que je sois autre et bien au-delà de moi-même.
________________

Michael Walsh
Lys blancs (1990)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (106) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (435) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (252) Reinaldo Ferreira (23) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)