Três Poemas de Londres


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Adolfo Casais Monteiro »»
 
Noite aberta aos quatro ventos (1943) »»
 
Italien »»
«« précédent /  Sommaire / suivant »»
________________


Três Poemas de Londres
Trois poèmes de Londres


I
Talvez, estrangeiro em qualquer parte,
fosse a minha pátria ser livre
no diverso perder-me em todo o mundo…
 
Talvez esta imagem me persiga
até ao fim, de ser nada em toda a parte,
para ser cada novo instante um estrangeiro
que não entende sequer a língua de si mesmo.
Talvez na vida valha só perdermos
a ganhar outro ser em cada coisa
­- e saber algum dia ser ninguém, pousando
sobre a quimera das horas o sorriso
de quem tanto perdeu que nada é mais…
 
II
Quantas vezes a vida principia?
Tudo é começar, quando se ama!
Amor de quê? Da névoa e do silêncio
subindo entre o passado e o presente?
ou do claro esvoaçar de um riso
que entre as pálpebras da noite se adivinha?
 
III
Dorme na paz provisória
De ser como não haver morte.
 
Não queimes a inocência
de que o dia te vestiu.
Sonha, acordado, sem luto
por tudo ter sempre um fim.
 
Deixa, queimado no porto,
navio do regresso
 
– contigo vai só o vento
que não tem âncora, nem lei.

I
Peut-être, étranger n'importe où,
ma patrie était-elle d'être libre
et dans le divers me perdre à travers le monde...

Peut-être me poursuivra-t-elle,
jusqu'à la fin, cette image, de n'être rien partout,
pour être à chaque instant un étranger
qui ne comprend même plus sa propre langue.
Peut-être vaut-il la peine de perdre dans la vie
pour gagner un autre être en chaque chose
– et de savoir un jour n'être personne, atterrissant
sur la chimère des heures avec le sourire
de ceux qui ont tant perdu que plus rien n'existe...
 
II
Combien de fois la vie commence-t-elle ?
Tout recommence lorsque l'on aime !
L'amour de quoi ? De la brume et du silence
qui remontent entre le passé et le présent ?
ou du clair battement d'un rire
qui, sous les paupières de la nuit, se devine ?
 
III
Dors dans une paix provisoire
de l'être comme si la mort n'existait pas.

Ne brûle pas l'innocence
dont le jour t'a vêtu.
Rêve, éveillé, sans en faire le deuil
parce que tout a toujours une fin.

Laisse, qu'il brûle au port,
le navire du retour

– le vent seul t'accompagne
qui n'a ni ancre, ni loi.

________________

Edward Hopper
Tôt dimanche matin (1930)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (250) Reinaldo Ferreira (11) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)