Cosmogonias


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Cosmogonias
Cosmogonies


Entre esses dois numerosinhos cardinais
Cabem infinitos números
O sistema solar inteiro ... e mais eu
Os livros enfileirados, um após o outro
Nas prateleiras longas desta biblioteca
Parecem compor um outro livro, num
Outro plano, noutras nuances

Em tudo há uma passagem que vai dar
  em outra coisa

    coisa dentro de coisa
    fundo sem fundo

Meu gato se aproxima de mim, leve
    Feito um gato
  lambe minhas pernas
Com um olhar felino azul me indaga

Milhões de universos se encaixam
Nos espaços que outros deixam
    E formam imagens
    E formam miragens

E formam estranhas linguagens
Como a língua dos Búlgaros que aterroziravam
A Europa há séculos e séculos atrás

Observando estas formiguinhas aqui
Caminhando lentas no galho do pessegueiro
  Indo em direção cega ao pêssego
    Que amadureceu
  Sem me perguntarem nada

Me pergunto quando é que isso tudo
Vai caber em mim
Entre ces deux petits nombres cardinaux
S'entassent des infinités de nombres
Le système solaire entier ... et moi en plus
Les uns après les autres, les livres en enfilade
Sur les longues étagères de cette bibliothèque
Semblent composer un autre livre, sur un
Autre plan, avec d'autres nuances

En tout Il y a un passage qui va donner
  sur autre chose

  une chose au dedans d'une chose
    un fond sans fond

Mon chat s'approche de moi, léger
      Fait le chat
    se frotte à mes jambes.
Avec l’œil bleu du félin qui réclame

Des millions d'univers s'emboitent dans
Des espaces que d'autres délaissent
      Et forment des images
      Et forment des mirages

Et forment d'étranges langages
Comme la langue des Bulgares qui terrifièrent
L'Europe il y a des siècles et des siècles

Observant-là ces fourmis
Qui marchent avec lenteur sur la branche d'un pêcher
    Allant à l'aveugle en direction de la pêche
      Qui a mûri
    Sans rien me demander

Je m'interroge, comment tout cela va-t-il
Venir s'entasser en moi
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Félix Vallotton
La bibliothèque (1921)
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