A província obscura


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A província obscura
L'obscure a province


venho de uma obscura província da Terra
esquecida por detrás do próprio esquecimento
de desaparecidas coordenadas geográficas
nasci de um povo abandonado e aguerrido
conquistando cada aurora como uma batalha
desde menino aprendi a cultivar a vida
da mesma maneira que os campesinos
cultivavam os solos duros e salitrosos
daquelas antigas abandonadas paragens

nasci de uma gente mui simples e solar
que lavrava a alegria em seus incertos sulcos
aprendi com eles a crer na chuva e nos rios
atravessamos mapas e os caminhos obscuros
da sobrevivência dos que não foram eleitos
aprendi a ser com o gado e com leopardos
a fraternidade dos pássaros e dos grãos
a resiliência das árvores e dos ombros comuns
uma branda profunda calma ainda me habita
a calma de quem sabe quem é e de onde veio

venho de uma obscura província da Terra
separada por imensos adeuses e despedidas
todavia foi lá em meio à escuridão e à incerteza
que aprendi a amar e crer nas açucenas e nos
 homens
trabalhar o impossível como o ferreiro trabalha o ferro
que entendi que a luta pela grande vida e pela poesia
são parte de um mesmo esplendoroso amanhecer
todavia foi lá que me aprendi – sobretudo a jamais
 escapar
das mãos o insofismável pássaro verde da esperança
je viens d'une obscure province de la Terre
oubliée par l'oubli même de la disparition
de ses coordonnées géographiques
je suis né d'un peuple abandonné et courageux
ayant conquis chaque aurore comme une bataille
depuis mon enfance, j'ai appris à cultiver la vie
de la même manière que les paysans
cultivent leurs sols durs et nitrés
de ces anciens parages abandonnées

je suis né chez des gens très simples et solaires
qui cultivaient la joie dans ses sillons incertains
j'ai appris auprès d'eux à croire à la pluie et aux rivières
nous avons traversé des cartes et les chemins obscurs
de la survie n'étant pas de ceux qui sont élus
j'ai appris à être avec le bétail et les léopards
la fraternité des oiseaux et des graines
la résilience des arbres et des communes épaules
un calme profond et tendre m'habite encore
le calme de celui qui sait qui il est et d'où il vient

je viens d'une obscure province de la Terre
séparée par d'immenses adieux et renoncements
mais c'est là, au milieu de l'obscurité et de l'incertitude
que j'ai appris à aimer et à croire aux lys blancs et
  aux hommes
à travailler l'impossible comme un forgeron travaille le fer
compris que la lutte pour la grande vie et pour la poésie
font partie du même et splendide point du jour
mais c'est là surtout que j'ai appris – à ne jamais
  laisser échapper
de mes mains l'incomparable oiseau vert de l'espoir.
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Cláudio César
sans titre (1991)
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