Versos encantados desde La Habana


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Narlan Matos »»
 
Elegia ao Novo Mundo e outros poemas (2012) »»
 
Italien »»
«« précédent /  Sommaire / suivant »»
________________


Versos encantados desde La Habana
Versi incantati dall’Avana


eu cometo versos
como quem caminha de madrugada por uma calle de
 la Habana

e avista sobre um muro debruçadas magnólias
materializadas como se fossem estrelas do mar
ao seu redor ramas verdes lhe guardam da escuridão
outras flores brancas caladas as observam

eu cometo versos
como quem dedilha uma guitarra cigana na Plaza de
 España
em Sevilha
numa tarde onde uma árvore toureia o vento lento
e uma dançarina de flamenco desenha pássaros com seus
 gestos
(sob sua sombra fresca dorme a poesia)

eu cometo versos
como quem lê Florbela Espanca numa quinta de Lisboa
repousado entre o branco marfim da cidade e o
 vermelho do sol
na mesa de uma taberna ao lado de uma garrafa de
 vinho tinto
descubro e me enamoro da musa e da brisa e do sal
 do mar
ao longe a praia aguarda pelos marinheiros que nunca
 se foram

eu cometo versos
como uma ilha chilena atenta à espera de um náufrago
como colheres de prata ao sol matinal de Madri
a desconfiança da liberdade ante um campo florido
como quem vê com alma e por isso não precisa mais
 dos olhos

eu cometo versos
como quem nasce de repente como quem avista a
 Andaluzia
como quem brinca com a luz sobre a pele das coisas
como o vento cochichando com o porto e com as velas
 brancas
como quem busca sereias e tesouros em mares perdidos

eu cometo versos
como amantes ensandecidos pela beleza ardem numa
 tarde de Andorra
como os suicidas que partirão ao amanhecer na carruagem
 do indizível
sem cartas nem bilhetes suicidas

eu cometo versos
como quem comete um crime e aguarda pelo castigo
 dos deuses.
j'écris des vers
pareil à celui qui déambulant dès l'aube dans une rue de
 La Havane

aperçoit sur un mur un magnolia qui se penche
et se matérialise comme le feraient des étoiles de mer
alentour des branches vertes le protègent de l'obscurité
d'autres fleurs blanches l'observent et se taisent

j'écris des vers
comme un tsigane qui gratte sa guitare sur la Plaza de
 España
à Séville
un soir où, toréador un arbre vient capoter le vent léger
où, du bout des doigts, une danseuse de flamenco
 dessine des oiseaux
(sous son ombre fraîche toute une poésie s'endort)

j'écris des vers
comme on lit Florbela Espanca dans une closerie de Lisbonne
posée là entre l'ivoire blanc de la ville et le rouge
 du soleil
à la table d'une taverne à côté d'une bouteille de
 vin rouge
je découvre, et m'amourache de la muse, de la brise
 et du sel de la mer,
au loin la plage attend des marins qui jamaist
 ne partiront

j'écris des vers
comme une île chilienne attentive à l'espoir d'un naufragé
comme des cuillers en argent au soleil matinal de Madrid
la défiance de la liberté devant un champ fleuri
comme celui qui voit avec son âme et n'a plus
 besoin des yeux

j'écris des vers
comme celui qui nait soudain comme celui qui voit
 l'Andalousie
comme on joue de la lumière sur la peau des choses
comme le vent qui chuchote dans le port avec les voiles
 blanches
comme on cherche sirènes et trésors perdus en mer

j'écris des vers
comme les amants ensorcelés par la beauté qui brûlent
 un soir en Andorre,
comme les suicidées qui partiront dès l'aube dans le
 chariot de l'indicible
sans cartes ni billets de retour

j'écris des vers
comme on commet un crime en attendant que vienne
 la punition des dieux.
________________

Paul Duqueylard
Orphée (1771)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (106) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (434) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (251) Reinaldo Ferreira (18) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)