Latinamerica


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Narlan Matos »»
 
Elegia ao Novo Mundo e outros poemas (2012) »»
 
Italien »»
«« précédent /  Sommaire / suivant »»
________________


Latinamerica
Latinaméricain


sou infecto
e estou cheio de impurezas
como meu povo
o povo que me povoa
de olfatos e memórias
de olvidos e quimeras
de azaleias azuis e cançonetas
o povo que em mim soergue povoados e aldeias
e esculpe acidentes geográficos em minha carne
falando línguas que não falo
escrevendo palavras que não escrevo
como um trem de vapor
planando sobre os caminhos de uma terra virgem
e hesita e segue rumando adentro do invisível
mais que há em nós
garimpando luares
num rio de noites

códices
máscaras
espectros
totens
pássaros
mosaicos
verdes
latitudes
lavras
povos
llamas
bisões
lanças
pirâmides

cântaros
instrumentos
escrevendo palavras de nuvens e advento
na boca de uma civilização

sou infecto
como a lâmina afiada invisível que em mim
(que nos nós profundos)
fronteira o sim e o não
e sei antes que o tempo fosse tempo
que não se nasce impunemente
a moeda com que se cunha um continente

mas estou contrito com o horizonte
com as pedras de Machu Picchu e Cuzco
com o cobre por sobre o sol que cobre o Atacama
com o coqueiral verde-oliva na ilha de meus sonhos
o bananal verde-claro por sob seu crepúsculo

sou infecto
e espero a chuva que não molha
a chuva que não cai do céu
a chuva que não lava
a chuva que um dia resplandecerá em mim
  um dia límpido de maio
Je suis infecté
et je suis plein d'impuretés
comme mon peuple
le peuple qui me peuplent
d'olfactions et de mémoires
d'oublis et de chimères
d'azalées bleues et de chansonnettes
le peuple en moi qui soulève bourgs et villages
et sculpte des accidents géographiques dans ma chair
parlant des langues que je ne parle pas
écrivant des mots que je n'écris pas
comme un train à vapeur
glissant sur les chemins d'une terre vierge
et qui hésite et continue de se diriger vers plus
d'invisible que celui qui est en nous
cherchant de l'or
dans la rivière des nuits

codex
masques
spectres
totems
oiseaux
mosaïques
verdures
latitudes
labours
peuples
flammes
bisons
lances
pyramides

amphores
instruments
écrivant des paroles de nuées et d'avènement
dans la bouche d'une civilisation

Je suis infecté
comme la tranchante lame invisible qui en moi
(qui au fond de nous)
délimite le oui et le non
et je sais avant que le temps fut temps
que ne vient pas au jour impunément
la monnaie frappée à l'effigie d'un continent

mais je suis mortifié par l'horizon
par les pierres du Machu Picchu et de Cuzco
par le cuivre au-dessus du soleil couvrant l'Atacama
par les cocoteraies vert-olive sur l'île de mes rêves
et les bananeraies vert-clair dans son crépuscule

Je suis infecté
et j'espère une pluie qui ne mouille pas
une pluie qui ne tombe pas du ciel
une pluie qui ne lave pas
une pluie qui un jour resplendira en moi
  un jour de mai limpide
________________

Diego Rivera
Paysage zapatiste (Le guérillero) (1915)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (106) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (434) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (251) Reinaldo Ferreira (18) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)