Adeus


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Adeus
Adieu


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Nous avons déjà brûlé nos mots par les rues, mon amour
Ce qu’il en reste ne parviendra jamais
À repousser le froid des quatre murs.
Nous avons tout brûlé sauf le silence.
Nous avons brûlé nos yeux avec le sel des larmes
Brûlé nos mains à force de serrer,
Horloges brûlées, pavés brûlés des rues
Inutiles ! À force d’attendre.

Je mets les mains dans mes poches
Et je ne trouve rien.
Auparavant, nous avions tant à donner à l’autre !
Comme si toutes les choses m’appartenaient :
Plus je te donnais et plus j’avais à te donner.

Parfois tu disais : tes yeux sont des poissons verts !
Et je te croyais.
J’y croyais
Parce qu’à tes côtés
Tout devenait possible. Ce temps
Était le temps des secrets,
Le temps où ton corps était un aquarium,
Le temps où mes yeux
Étaient des poissons verts.
Aujourd’hui, ce ne sont que mes yeux.
C’est peu mais c’est vrai,
Des yeux comme tous les autres.

Nous avons depuis longtemps brûlé nos mots.
Quand je te dis maintenant : mon amour…,
Il ne se passe absolument plus rien.
Avant la cendre des mots, pourtant
Je me souviens que les choses
Tressaillaient au simple fait
De murmurer ton nom
Dans le silence de mon cœur.
Nous n’avons plus rien à donner.
En toi il n’y a
Plus rien qui réveille ma soif.
Le passé n’est plus qu’un oripeau inutile.
Aussi je te le dis : j’ai brûlé tous les mots…

Adieu.

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Joan Miró
Chiffres et constellations amoureux d'une femme (1941)
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