Elegia das Águas Negras para Che Guevara


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Eugénio de Andrade »»
 
Homenagens e outros Epitáfios (1974) »»
 
Italien »»
«« précédent /  Sommaire / suivant »»
________________


Elegia das Águas Negras para Che Guevara
Élégie des Eaux Noires pour Che Guevara


Atado ao silêncio, o coração ainda
pesado de amor, jazes de perfil,
escutando, por assim dizer, as águas
negras da nossa aflição.

Pálidas vozes procuram-te na bruma;
de prado em prado procuram
um potro mais libre, a palmeira mais alta
sobre o lago, um barco talvez
ou o mel entornado da nossa alegria.

Olhos apertados pelo medo
aguardam na noite o sol do meio-dia,
a face viva do sol onde cresces,
onde te confundes com os ramos
de sangue do verão ou o rumor
dos pés brancos da chuva nas areias.

A palavra, como tu dizias, chega
húmida dos bosques: temos que semeá-la;
chega húmida da terra: temos que defendê-la;
chega com as andorinhas
que a beberam sílaba a sílaba na tua boca.

Cada palavra tua é um homem de pé,
cada palavra tua faz do orvalho uma faca,
faz do ódio um vinho inocente
para bebermos, contigo
no coração, em redor do fogo.
Noué au silence, le cœur encore
sous le poids de l'amour, gisant
de profil, écoutant, pour ainsi dire,
les eaux noires de notre affliction.

De pâles voix te cherchent dans la brume;
de prairie en prairie recherchent
un plus libre poulain, le plus grand des palmiers
au-dessus du lac, une barque peut-être
ou le miel saupoudré de notre joie.

Tes yeux resserrés par la peur
attendent dans la nuit le soleil de midi,
la face vivante du soleil où tu grandis,
où tu te confonds avec les branches
de sang de l'été ou la rumeur
des pieds blancs de la pluie sur les sables.

La parole, comme tu disais, arrive
humide des forêts : il nous faut la semer ;
elle arrive humide de la terre : il nous faut la défendre ;
elle arrive avec les hirondelles
qui l'ont bu syllabe après syllabe dans ta bouche.

Chacune de tes paroles est un homme debout,
chacune de tes paroles fait de la rosée un couteau,
fait de la haine un vin innocent
que nous boirons ensemble, avec toi
dans le cœur, autour du feu.

________________

Andy Warhol
Che Guevara (1968)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (432) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (250) Reinaldo Ferreira (3) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)